Ser mãe do Benjamin foi e ainda é o maior desafio da minha vida. Ser mãe já engloba tudo isso, mas ser mãe em todo o contexto que sua existência requer uma força extra. Em 10 anos, passar de mãe de primeira viagem para uma mãe atípica exigiu um processo de crescimento intenso, do qual minha mente não acompanhou as necessidades. A cada ano, as barreiras aumentam, a exigência só cresce.
Os primeiros dias de vida dele foram marcados pelas noites em claro que um bebê recém-nascido traz consigo. Passado isso, veio todo aquele processo lindo de desenvolvimento dos primeiros meses, e tudo aquilo que, sem pressa, eu aprendia sobre ser mãe. De repente, fui puxada para um mundo aleatório de incompreensão, onde cada atitude dele vinha acompanhada de porquês. Toda aquela evolução de um bebê foi sendo trocada por situações confusas e desnorteantes, em conjunto com a regressão. Mas nunca, jamais foi uma opção não continuar. E, novamente, minha mente, como sobrevivência e instinto, não pensou em si mesma. Afinal de contas, mãe foi programada para ser tudo que um filho precisa, não é? Magicamente, uma mãe aguenta muito mais do que suporta; no romantismo enraizado na sociedade, ela pode definitivamente aguentar tudo.
Com todo crescimento e com a busca, veio então um diagnóstico. Com o crescimento vieram também as responsabilidades de tornar o autismo, que em grande parte é o que ele é, apenas uma parte dele, a fim de fazê-lo ter uma vida plena e feliz. Há 10 anos, elaborei uma estratégia mental de que, em todas as vertentes, eu sustentaria quem precisasse ser, para que o cuidado e a melhora viessem de todas as formas. Combinei comigo mesma que isso seria a longo prazo e que, nas recaídas da minha mente, eu suportaria, por ele, mesmo sendo insuportável. Eu juro que, em todos esses anos, entre dietas loucas, insônias, hiperexcitação, agressividade e todos esses outros sintomas, eu realmente acreditei que o caminho certo era esse: não desistir.
Em 10 anos, não ousei questionar o que precisava ser feito. Fui lá e dei tudo de mim, tudo o que tinha, tudo que poderia ter. Coloquei na crença inabalável de onde meu filho poderia chegar. Fui para o Ben o que jamais fui para mim: meus fins de semana, feriados, minha saída com as amigas, os amores que poderia ter, os sonhos pessoais e intransferíveis não realizados, as metas, a saúde mental e física. Quando me perguntarem o que foi que, neste tempo todo, dei para meu filho, foi isso: o maior empreendimento da minha vida foi construído no som da voz dele; as riquezas que juntei foram os sorrisos hoje ao cantar parabéns; a estabilidade de vida que tenho é hoje saber que ele está lendo e escrevendo seu próprio nome. Meu Deus, eu com certeza faria tudo de novo por ele, apenas por ele. Mas como dói amar assim por tanto tempo, como é difícil equilibrar uma mente que jamais pode ser egoísta, sempre estando no extremo da sua responsabilidade por um amor deste jeito.
Dentre todas as situações que já vivi, toda a força que insanamente me foi dada, hoje, mesmo com tudo, talvez pela primeira vez, desejei que fosse diferente, aceitaria mudar tudo, se ele não fizesse parte do meu passado. gostaria na verdade. Mas mudar seria perdê-lo,e esse é o único preço que não tô disposta a pagar. Isso seria perder a mim mesma, queria de volta minha mente aos 22, intacta, cheia da garra, mas os anos se passaram e sobrou pouca coisas depois de tantas brigas com a vida. Algumas coisas foram tão injustas comigo e ainda são, ninguém faz ideia do que é tá neste papel, onde quase todas as situações da vida constantemente partem seu coração. Não há lugar na minha vida para coisas que na vida de todo mundo é comum.
Apenas não há, nem na mente nem no coração. A responsabilidade envolve uma coisa grande demais, o desenvolvimento do ser humano que é minha responsabilidade. O acesso, o respeito, os direitos, a luta de uma mãe atípica é em tudo que envolve a vida do filho, é uma guerra constante de degaste mental pelo básico. Um dia meu filho vai entender que uma mãe pode se sentir assim. No dia em que eu me for, só quero que ele veja esse texto e pense: Eu tive alguém que me amou de verdade, sem absolutamente nada em troca. Não existe romantismo em ser mãe; o romantismo apenas está em um filho ter uma boa mãe.