Oi gente, tudo bem? Hoje eu vim aqui falar um pouquinho do papel de ser mãe, esse papel que é a longo prazo na nossa vida, porém ele precisa ser um papel consciente. Eu tenho consciência de tudo que eu fiz pelo Ben, e faria de novo. Porém, mentalmente, essa intensidade que a gente vive… Eu vou fazer isso por mais 10 anos. Dez anos fazendo tudo isso e, depois disso, eu preciso buscar os meus sonhos.
Enquanto eu faço isso durante esses 10 anos, não posso parar, afinal de contas, preciso me desenvolver para que, quando chegar esses 10 anos, eu tenha para onde ir e o que fazer. Então, durante esses 10 anos intensos vou me desenvolver. Essa é a minha ferramenta para não enlouquecer. Tudo o que eu gostaria de fazer, vou fazer no tempo que der, mas vou fazer, porque senão a minha mente acaba culpando o Ben por uma coisa que ele não tem culpa.
São 10 anos intensos buscando o desenvolvimento dele, e depois desses 10 anos acho que vou conseguir relaxar um pouco mais. Acredito que ele vai ter desenvolvido as coisas básicas. Enquanto isso acontece, vou sim fazer as coisas que eu sempre quis: aprender línguas, cuidar do meu corpo, ajeitar as coisas que a maternidade traz para gente no corpo. Vou fazer tudo isso para que eu consiga, nesse tempo, continuar cuidando do Ben como eu sempre cuidei. é uma estratégia de sobrevivência. Até porque, nós sabemos que a adolescência está logo ali, né? Daqui a pouco, a juventude. Muitos dos nossos filhos vão ter as suas próprias escolhas, alguns, infelizmente, não, mas eu estou contando que o Ben vai fazer suas próprias escolhas.
Então, se hoje eu não fizer algo por mim, daqui a 10 anos eu vou ser nada para ninguém, porque o Ben simplesmente vai viver a vida dele, e o Bernardo também. Casamento, amizades… A gente não sabe o que vai acontecer amanhã, então a nossa confiança precisa ser só em nós mesmas, e, acima de tudo, em Deus. Mas na nossa força bruta, não podemos confiar que alguém, nem nossos próprios filhos, vai estar para a gente o tempo todo, por mais que a gente esteja por eles nos melhores anos da nossa vida.
O autismo toma uma grande parte da nossa vida, se não toda, mas, em alguns momentos, é possível sim. Entre ele dormir às 8 ou acordar um pouco mais cedo do que o comum, fazer daquele tempo ali, quando ele tá dormindo, um tempo útil para você. É possível sim fazer isso. Ele tomou grande parte da sua vida, mas não o tempo todo. O seu tempo você dá para muitas pessoas que não merecem, para situações, para seus amigos, para a internet, redes sociais. Esse tempo que a gente dá pode ser para a saúde mental, mas também pode acabar com ela. Então, precisamos saber o que é produtivo para a gente.
Preste bastante atenção no que você coloca no pouco tempo que a vida com autismo te dá. Quais são os seus maiores desafios? O que você está colocando no seu tempo e para quem você está dando? Preste atenção, porque a vida no autismo já é difícil demais, mas pode piorar se você não souber administrar o pouco tempo que é dado e tirado por todas as coisas importantes que o autismo traz. Eu digo traz pra nossa vida as coisas mais básicas a serem desenvolvidas.
Muito importante é priorizar sempre as coisas mais básicas, como terapia, medicação, médico, hora de dormir, controlar a tela. Preste atenção em quem ou no que você está dando o seu tempo, porque isso vale a pena, mas todo o resto, se não souber administrar e filtrar, não vale. Então, mentalmente, crie uma estratégia que vá te tirar do lugar em que você está hoje e te leve para algum lugar, seja ele qual for. Mas um lugar de sonho, um lugar de aconchego, um lugar de expectativa. Sabe por quê? Porque se você não for para esse lugar, a sua mente não vai aguentar ficar nesta realidade por muito tempo, e aí surgem coisas que você não consegue controlar, como, por exemplo, transtornos, depressão, ansiedade. Sim, na nossa vida isso é muito comum. Os índices de suicídio entre mães estão muito altos. Isso não é porque a pessoa é fraca, mas porque a pessoa tentou ser forte demais durante muito tempo e ninguém viu.